ela queria fugir

ela fez de conta que não o viu.
virou-se e saía de mansinho,
quando sentiu a mão sobre o seu ombro.

- o celular continua o mesmo?
- é. continua.
- ah, vou ligar.
- mas só bem depois, tá? estarei muito ocupada.

ela se sentiu desconfortável.
não queria sair com ele beber um café. nem dos minúsculos.

ele percebeu e disse que sabia que não dariam certo.
ufa.

moço da camisa xadrez

será que vc pode fazer algumas coisas para ela não querer te ter por perto?
será que até na hora de lavar a louça vc organiza as coisas do jeito dela? não podia deixar tudo empilhado feito uma arapuca só pra irrita-la?
só uma vez, faz de conta que não mais suporta café. ou tenta alguma coisa mais fácil.

ou então, continue com os olhares que atravessam as distâncias.
que ela continuará fazendo de conta de que não te vê e que este músculo que bomba sangue ao seu corpo, não bate em ritmo mais acelerado ao te ver.

um gato chamado godard

foi por conta dele que amelie foi enrolada numa toalha durante uma madrugada e levada as pressas à clínica para fazer uma cesariana. ele era grande demais, e estava fora do lugar.

o gato que foi deixado de lado pela veterinária - que pensou que ele não estava vivo - virou o xodó do meu pai. enorme, branco e fofo, godard poderia ser um coelho da páscoa, não fosse a aversão por crianças.

godard é uma dessas coisas gostosas de se ter por perto. corre no telhado desde às 5 da manhã, mia alto como um despertador inisistente até meu pai levantar. godard toma banho de chuva e vai para a sua cama antes do anoitecer. faz outras coisas também... nesta semana encontrou um novo brinquedo: uma cesta cheia de pão-de-queijo. fez deles um futebol no chão da cozinha!

godard faz afagos na wendy - sua mãe-cachorra; dá tapas no fucinho de samantha, a poodlle branquinha e puxa descargas com cordinhas...

do dia que escrevi em primeira pessoa

estava no café da manhã, na villa bahia, com a minha grande amiga e uma que conhecera nesta manhã, amiga da amiga.
num momento falavamos de relacionamentos onde apenas um lado se entrega - ou seja, o feminino.
citamos uma outra amiga, que ama um homem mais velho e que por sua vez, é casado com uma mulher de sua idade.
uma delas disse na mesa:
- onde esta o pai dela nessa hora?
como se o pai devesse toma-la no colo e dar um soco na cara do tal homem.

não suportei tal idéia.
talvez por fazer parte de uma geração de mulheres fortes.

acho que até mesmo os relacionamentos destrutivos são necessários.
é com eles que crescemos aceleradamente.
discordo que qualquer pessoa tenha o direito de dizer o que se deve ou não fazer quando estamos apaixonados.
e também, porque acho que não existe nada mais desajustado do que uma mulher frágil que necessite que os outros indiquem o caminho, como um marionete guiado por cordas.

me dá ânsia a idéia de que amigos ou parentes devem guia-la para que encontre sempre o homem doce feito algodão-doce. mulheres resolvidas que vivem num pensamento de sociedade patriarcal! a imbecil ilusão de que a mulher deve se portar como aquele despresível ser que acata o que os outros acham o que é melhor.

arghhhhhhhhhhh.

e aquela história de que devemos seguir o que sentimos? que afinal de contas, só quem esta dentro da relação sabe do que e como ela é feita? pra onde foi isso?

das palavras desajeitadas

- moça, a senhora é tudo di bão!
[ela ouviu na arthur azevedo].

com o carro batido

levantou-se e vestiu uma linda saia nova.
lã leve, bege, cintura alta.
saia lápis.

não deu conta de que quando vai circular por SP dentro de um ônibus, precisa pensar num figurino apropriado.
o degrau do ônibus era alto.
e a saia seguia até os joelhos, com uma minúscula fenda atrás.

a fenda quase parou na altura da bunda.
e ela saiu do ônibus com o casaco amarrado na cintura...

noite com amigos no la tartine

ela seguiu com três amigos ao bistrozinho.
diferente da última vez, ninguém disse na entrada que quem a acompanhava tinha ao seu lado o sorriso mais bonito de sp.

a mesa para dois, ao lado da porta de trás estava vazia.
ela sentou-se em uma mesa para quatro, no primeiro ambiente.
de costas para a tal mesa romântica.

vez ou outra ela virava-se para trás.
para conferir se a mesa continuava vazia.
como se assim ela devesse permanecer, até que eles ocupassem os lugares mais uma vez.
e mais uma vez ele mudasse o lugar da sua cadeira, e perguntasse se podia a beijar.

mas eles não voltaram a ocupar aqueles lugares.
e mais tarde, outro casal sentou nas cadeiras.


mas a mesa devia seguir reservada!
... o restaurante não faria isso por ela.
não fez por eles.

la reina de los EX

[ou, dela com eles - numa semana agitada].

café com um.
o dele com açúcar, o dela puro - e forte.

outro da categoria, a olhava dançar com o amigo.
ao lado dele, a observando também, uma garota que a canta há anos.

o bonito de se ver - que nem entrou para o rol dos ex'S - segurava escondido a sua mão,
enquanto ela se despedia dos amigos no bar.

com aquele outro, ela foi à um sarau.
olhou saturno pelo telescópio. lindo, lindo.
sorriu com a escolha do poema dele.

seguiu com ele para encontrar outro ex.
noite de risos.

na mesma semana, foi ao cinema com outro deles.
almoço + café + olhos marejados.
queria o ver mais leve. fazer ele sorrir.

***

frases soltas de uma madrugada cbzística [duplamente]

no inho>
vc está descabelada!
estamos dominando...

no ão>
i wanna be your man.
não vai não.

e agora??

do horóscopo britânico na caixa de e-mails:
if you have started a new romance recently, it could be someone you can't live with but you can't live without them either.

em outras palavras:
vc tá fodida!

do corpo colorido

lembrou das manchas roxo clarinho que os abraços apertados lhe rendiam.

na noite de ontem ela recuou antes que uma nova marca aparecesse.
isso, porque ela gosta por demais dos sinais.
e se encontrar um deles em seu tórax, vai buscar por mais.

deles [ou: por eles]

um diz que ainda a ama e a questiona porquê de sua vida ela sumiu.
outro pede para a tirarem de perto. [salvo que ela mal tinha o visto! e pouca trela lhe dera...]
e aquele bonito de se olhar, diz que com ela quer viajar. [mas darling, com você ela não quer nada! talvez um café com brigadeiro e boas risadas na padaria da esquina. mas não espere mais que isso].
ainda há aquele que quer saber o que passa dentro de sua cabeça. [moço, deixe os pensamentos dentro da cabeça dela. você não vai comprar a história, então, não cutuque].


dela:
coração sossegado.
tranquilidade.
boas noites de sono.
fotos em papel impresso.
risos.

conselhos de avô

ele disse:

use unhas de vermelho mais intenso, ou rosa clarinho. não gosto desta cor.