quinta-feira, 31 de maio de 2012

só perguntas burocráticas, por favor

por que as pessoas insistem em perguntar aos casais: "e o filho? quando vem?
quando vocês vão engravidar?
e o bebê?"

caralho

ou dizem: "ah, mas vocês não estão pensando em filho né? porque se estiverem vou te dizer: espere, curta a vida antes porque vocês tem tempo."

e eu me pergunto (dentro da minha cabeça óbvio): "mas você acha que eu vou decidir de acordo com um conselho de quem mal conheço?".

eu tô tremendo, e dessa vez não é nem por conta da terra que tremilica por aqui.
é por dentro mesmo.
é por conta das palavras do nosso médico.

caralho.
caralho em caixa alta!
C-A-R-A-L-H-O

existem coisas que as pessoas não devem perguntar.
e essa é uma delas.

portanto, se você me conhece, não me pergunte isso.
porque posso me fazer de morta, surtar ou dar uma resposta muito mal educada.


outro dia num jantar estavamos numa mesa longa.
giovanna, que não quer filhos e declara aos quatro ventos, contava que quer deixar a italia pra viver no brasil e cuidar de crianças carentes. disse que eles serão seus filhos.
irene, que acabou de ter um filho, me perguntava por que eu não queria voltar pro brasil, e eu explicava que era a nossa escolha. que quando se pesa na balança se vê que um filho aqui é muito mais "cômodo" e seguro do que no brasil. explicava que o mesmo não é válido quanto ao trabalho. que tanto eu como luca fariamos muito mais dinheiro no brasil. mas é a nossa escolha, a de ter a nossa família.

e irene sem pensar disse: vocês vão ver, o mundo gira tanto que a giovanna pode engravidar, e a adriane pode nunca ter o filho.

pois bem cara irene, é exatamente que isso que pode acontecer.
e quer saber?
a vontade é a de sair por ai chutando latão de lixo! até toda essa raiva ir embora.
e só então parar pra pensar com calma.

ninho

sou muito orgulhosa de todos os ninhos que temos no jardim de casa
coloco semente de linhaça, fruta e uma bola de semente mista por todos os cantos (principalmente no inverno) para os passarinhos.
mas com isso o que aumentou mesmo foi a frequencia dos gatos por aqui.
e apesar de adorar gatos (e não poder chegar nem perto por conta da alergia) acabo fazendo um "shhhhttt" cada vez que vejo um pra espantar pra longe dos meus passarinhos.

mas agora tô pensando seriamente em comprar o tal spray de hormônio pra passar em cada canto do jardim! pra ver se esses gatos vão pra outra vizinhança.

ontem a tarde ouvi que o vizinho cortava grama, e achei estranho ontem a noite quando via umas graminhas na varanda de casa. não tinha vento tão forte assim pra voar até aqui.

essa manhã vejo que não era grama, era um ninho inteiro destruido no chão da varanda.

aliás, assim Luca finalmente acreditou que tinha mesmo um passarinho construindo o ninho na varanda - o que ele dizia ser impossível, já que estamos sempre por ali.

primeiro pensei no gato.

mas muito otimista como ando nesses últimos tempos, pensei  que deveria ser resultado do último terremoto, o de terça.

mas a teoria caiu em dois segundos... o terremoto forte foi às 13h, e Tina, a faxineira, limpou tudo a tarde. 

voltei a pensar com raiva no gato gordo!
sei que é a lei da natureza... mas que vá encher a pança com um bom prato de ração!

terça-feira, 29 de maio de 2012

é hora do desenho

9h da manhã e brummm veio o terremoto fortíssimo.
eu estava no hotel, pra tomar café da manhã com a minha sogra.

na hora, peguei pela mão o meu sobrinho de cinco anos e o levei pro jardim.
ele não entendeu nada,
por incrível que pareça não sentiu nada.

estava preocupado é em voltar pra frente da tv assistir o seu desenho.

expliquei o que estava acontecendo,
e ele me diz com a maior calma do mundo: eu vi no wild o que é um terremoto.
continuou: eles explicaram que na hora temos que sair de casa.

respondo: foi o que fizemos!
ele: mas é hora do meu desenho!

sensibilidade paterna

se há uma coisa que falta no meu pai é a sensibilidade de deixar algumas coisas só no seu pensamento e de não transforma-las em palavras.
como hoje por exemplo, quando eu, em frangalhos pós terremoto (o terceiro do dia), tremendo como a terra, e contendo o choro, liguei pra ele.
e ele, na maior tranquilidade me diz:
tá vendo, o mundo vai acabar!

mas nessa hora, tudo o que eu (ou qualquer outra pessoa) preciso é um: "vai ficar tudo bem, se acalme".

é pedir muito?

domingo, 20 de maio de 2012

o raio do terremoto

04h04 da madrugada: vuuuuuuuuuuuummmm e a casa toda começa a tremer

a cama antiga de outro século fazia barulho
e eu gritava: "vamos sair de dentro de casa",
mas meu corpo não obedecia, o medo era tanto que fiquei alguns segundos imóvel, repetindo à ele: "vamos sair de casa!"

foi o barulho das coisas que caiam da prateleira na cozinha que parecem ter acordado a parte do corpo que não obedecia. e saimos da cama num salto.

não dá tempo de pensar em calçar qualquer coisa no pé, não dá tempo de pegar um casaco,

e quando abrimos a porta, tudo parecia ter voltado ao normal.

voltamos pra dentro, mais do que assustados, com os olhos mais abertos do que os de uma coruja.
voltamos sem a sensação de que a casa estava descendo montanha baixo.

voltar pra cama... nem pensar!
o medo é tanto que a primeira reação é a de se acomodar no sofá (que é mais perto da porta).

e a madeira do teto que continua a trabalhar, estalando só piora.

15 minutos mais tarde vou fazer xixi... e lá que vem um novo terremoto, mangnitude 4,3
e o medo era tamanho que não consegui me mexer outra vez. por mais absurdo que pareça, fiquei lá até terminar todo o xixi, como se estivesse na maior tranquilidade.

pequenos tremores continuaram a cada 15 min... e chega um ponto em que não sei mais se é um tremor ou é impressão.

deitamos no sofá, ele toma suas gotinhas de lexotan, nos acomodamos juntinhos e... lá vem outro forte, 4,9 - nada perto do primeiro.

foi assim o dia inteiro... 126 terremotos em um dia.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

vilarejo

moro num vilarejo em que as pessoas ainda sabem dos acontecimentos importantes pela igreja

fico desconcertada quando toca o sino da morte, para avisar a todos os moradores de monte maderno que alguém daqui morreu

é a terceira vez desde sexta feira

e me faz pensar, a cada vez, que esse gesto mostra tão mais respeito com a morte.