sábado, 30 de junho de 2012

apoio moral patrocinado pelo canale cinque

e eu que não acredito em horóscopo e bulhufas, presto atenção no nosso (que é o mesmo) na manhã de hoje no tele jornal:

"agora que você sabe todos os agravantes da situação, não se iluda. vá em frente mantendo o foco".

e ele me olha com o olhar mais doce,
com a certeza de que vai dar tudo bem.

um trator passou por cima de mim

é estranho,
mas é a terceira vez que a mesma cena se repete.

enquanto estamos no consultório médico eu ouço tudo com atenção, recebo as notícias mais dolorosas com expressão de apresentador de jornal nacional, faço todas as perguntas e não perco o foco.

basta entrar no carro, que não consigo nem mesmo formular uma frase. paro nas duas primeiras palavras, não consigo ir adiante.
não consigo nem falar de tanto que choro.

é a mesma reação que tenho no meio de um assalto.
se tem um ladrão do meu lado, o meu sangue se congela, descrevo cada movimento, entrego tudo com calma, e dois segundos mais tarde, quando tudo acaba, desmorono.

pelo menos desta vez parecemos estar no caminho certo.
parece que encontramos o médico certo.

não é o engraçadinho que diz: "é, o resultado mostra poucos espermatozóides, mas na verdade vocês precisam de um só".
não, caro mio, não precisamos de um só. precisamos de pelo menos outros 20 mil empurrando esse ai.
ou ele não chega a lugar algum.

o mais duro é que a inseminação, que era o caminho pelo qual iamos, já foi descartado.

é difícil, mas a vida toda me questionei por quê uma pessoa opta por fazer in vitro.
sempre pensei: mas tem tanta criança já por ai, pronta pra adoção, por que gerar uma em laboratório?

me parece uma coisa fria.

mas depois de muito choro,

é a decisão que tomamos.

se der, porque ainda nem mesmo sabemos se podemos,
será feito.

e o segundo será adotado.

mas tendo decidido, me sinto fraca, sinto faltar o ar,
sinto uma dor indescritível.

junto aparecem milhões de dúvidas.
e a pior de todas: e se não der?

terça-feira, 26 de junho de 2012

arranca meu coração com as mãos

e ele me diz: coloque as pernas pro alto.
fiquei assim meia hora, imóvel.

penso antes de falar. penso dez vezes antes de falar.
mas não resisto. é muita tortura pra mim.
pergunto: vc sabe que não tem o menor cabimento, não é mesmo?

ele me diz: mas a tua amiga seguiu as regras do doutor e engravidou!

e não sei o que me faz mais mal. se é ver que ele se recusa em aceitar o resultado do exame médico, ou em acreditar que tudo pode acontecer como mágica.
ou se acredita na delicadeza do médico de família que falou brincando "na verdade pra fazer um filho vocês precisam só de um" (como num tom de quem diz: não sou eu a dar a má notícia).

pode ser poético na teoria. mas na prática é destrutivo.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

não pertenço mais à casa em que cresci

quem poderia ir ao "embarque" em vez de "desembarque" buscar alguém no aeroporto?
pois eu era aquela que esperava num vento frio na manhã de hoje de curitiba.
gritos, frases repetidas e a sensação de "já vi esta história antes".

não foi um mero deja vu... nosso último encontro num aeroporto foi tão tumultuado e confuso que pareciamos duas pessoas que não falavam a mesma lingua. uma fala grego, a outra chinês.

frieza.
palavras duras antes mesmo de um carinho,

e há quanto tempo mesmo não nos viamos?
pois é.

não eramos nem mesmo amigos ou mero conhecidos.

mas me sinto uma estranha aqui dentro.
uma estranha no meu próprio quarto.

uma estranha que no meio da noite deve ouvir:
- o que vamos comer hoje?
- (tentando manter a história com bom humor): eu que sou a visita aqui, lembra?
- então vou passar fome.
- ótimo. seremos dois.

e no meio de todo esse manicômio, digo:
- se eu fosse você teria vergonha.
vergonha por não me ver por mais de um ano e meio e no lugar de aproveitar cada segundo, o que você faz é botar tudo água baixo.

mais uma vez me sinto uma idiota por querer alimentar uma relação que só me faz mal.

cortar a relação me faria ainda pior. me mataria.

o melhor é continuar a 10mil km de distância... onde ele é doce ao telefone, e ela vez ou outra me desliga na cara e se irrita nas minhas duas primeiras palavras.


sexta-feira, 1 de junho de 2012

meu lado japonês

como todas as noites, ele se adormenta no sofá 30 segundos depois de ligar a tevê,
enquanto eu estou ali, sentanda quase sobre os pés dele, no meu cantinho bem acomodada com a almofada de oncinha, o sudoku da semana nas mãos e a xícara de chá com mel à minha esquerda

antes dele fechar os olhos digo: me explique como é possível que eu termine mais rápido o terceiro nivel de dificuldade do que o primeiro, que em teoria é o mais fácil.
ele: ah, e você vem perguntar isso pra mim? nem sei como isso funciona!
eu: vem cá que eu te explico, é simples
ele: ah não, não, não. deixa isso pra lá. acho que eles brincam com você e colocam um de outro nivel de dificuldade disfarçado de fácil!

e não é que eu acho que ele tem razão!?

em tempo: confesso que adoro completar o nível do mais difícil!