crise fotografica

ela levou um bom tempo pra abrir mão da camera de filme
praticamente o mesmo tempo que a sua avó

e agora que perdeu mais de dez dias de fotos
pergunta-se por que não carrega mais seus rolinhos coloridos e p&b pra todos os cantos

para o vazio se foram os rostos desconhecidos pelas ruas de verona
o sol nascendo em toscolano maderno
os cantinhos de mantova
as delicias dele
o branco da neve
...

fim de tarde em salo

de verona

o som deles

na primeira noite eles sairam apos o jantar para uma caminha em torno da casa.
ao chegarem na porta de uma grande igreja de pedra, os sinos soaram.

e assim tem se repetido.
meticulosamente.

cada vez que passam em frente a uma igreja,
blem-blem, blem-blem, blem-blem

e igreja é o que nao falta!

ele a perguntou se é o destino deles.
ela, descrente dos escritos do destino,
prefere achar que so os dois ouvem esse sinos
e que esse é o som que dizem que se escuta quando se beija a pessoa certa

inverno na primavera

toscolano maderno congelando meu nariz





fotos: adriane hagedorn

red velvet

ao lado de uma amiga, avistou seu carro
sujo, do tipo encardido
a prefeitura quebrou o asfalto da rua em que trabalha
e a poeira que levanta dia após dias
tenta mudar a cor que antes era prata

nem isso podia tirar o sorriso de seu rosto
nem sua conta bancária
nem os quilos a mais instalados em seu quadril

ela tinha rosas vermelhas sobre sua mesa
com folhas verdes-avermelhadas de camélias
e pequeninos botões de camélia
num embrulho de papel de seda musgo fosco
com um laço do mesmo tom

nada pode desmanchar seu sorriso
nem mesmo a neve que chegou sem aviso naquela cidade onde estará em poucas horas
o almoço errado no restaurante da augusta
ou o mau humor que se instala vez ou outra em seu pai

sua mãe acha que ela nem vai voltar
mas ela vai

pra lá e pra cá