terça-feira, 29 de outubro de 2013

fatia de fessssta

matteo, seis anos, que não consegue pronunciar a letra "s" no meio de palavras.

me diz: hoje aprendi uma nova letra na escola, aprendi o "f".
e fizemos uma lista de todas as palavras com "f"... farfalla (borboleta), forza (força), etc.

ele me diz: fetta (fatia)!
sim, fetta! uma fatia de pizza.

ele: não... não essa fetta, aquela outra.
eu: qual outra. está certo, uma fatia de pão, uma fatia de bolo.
ele: não... f-e-t-t-a
eu: tá certo.
ele: nãaaao... aquela que eu não consigo falar...
eu: ah... fessssssta!!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

au au au

(cachorros latem na vizinhança)

- Matteo, seis anos: por que a Chloe levantou as orelhas?
- eu: porque ela está ouvindo o que os outros cachorros estão falando.
- e o que eles estão falando?
- eu não sei, Matteo, não entendo o latido deles.
- mas se a Chloe entende tudo o que você fala, por que você não pode entender o que eles falam?

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

conversas com um pimentão de 6 anos

- Matteo: sabe, decidi o meu nome novo.
- eu: qual nome novo?
- Matteo: é... porque sabe... um dia eu vou decidir mudar de nome.
- eu: e por que?
- Matteo: e o que eu faço se eu encontrar pessoas que não sabem falar o meu nome? que acham muito difícil falar Matteo?
- eu: e qual é o nome novo?
- Matteo: Luigi il peperone!
- eu: ah claro, você tem razão, Luigi! Luigi il peperone é muito mais simples do que Matteo.
- Matteo: é, eu sei!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

das frases da minha sogra

eu: gosto tanto da estampa deste teu vestido
ela: é da gilda, das ilhas canárias. cada vez que eu passo na frente ela me fala "entra, vem provar'. eu vou. e essa mulher me entope de coisas bonitas no provador! e não é que dá tudo certo?!
eu: ah, que bom!
ela: que bom nada! a gilda custa mais que o valentino!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

quarta-feira, 31 de julho de 2013

da noite de ontem

coral monte pizzocolo a dez passos de casa. uma noite deliciosa que abriu com o hino italiano "fratelli d'italia... passou por todas as músicas dos partigianos de guerra (bella ciao!, escala rossa), canções das estações, e fechou com uma série de sonzinhos românticos, como a versão italiana de blue moon:

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Aida

(...) E mesmo com todo aquele vozerão de Giovanna Casolla (Amneris), Hui He (Aida) e Fabio Sartori (Radamès) que causa alguns arrepios, a emoção de toda a apresentação estava ali, um degrau abaixo ao meu lugar, mostrando que para se apreciar uma trágica história de amor escrita há cem anos, não é preciso nem mesmo ter a experiência de um coração quebrado.

(texto completo aqui).

sexta-feira, 19 de julho de 2013

mochila

depois de três noites desmarcadas,
Matteo (6 anos) me diz:

- quando era mesmo aquele dia que eu viria dormir aqui com vocês? (com a maior cara de cachorro que caiu da mudança).

pulo da cama

2h da manhã: acordo no susto

espio pela porta da varanda do quarto... um carro parado com todas as portas abertas

acordo ele: tem ladrão.

ele meio adormentado levanta, espia e diz que não tem nada.
- ah tem!

abro a porta de mansinho... tem barulho.
mas o barulho acaba ficando muito rumoroso. falam alto... e que ladrão discutiria com seus amigos no meio da ação?
acendo as luzes, vou pra varanda...
- o problema é o alcool, diz um pro outro, com no máximo 18 anos.
- eu não consigo mais dirigir - diz a menina do grupo.

bêbados como um gambá, se lamentando de quem iria dirigir... bem ali embaixo da minha janela, atrapalhando o meu sono.
sono que foi embora até as 5h da manhã,
quando consegui fechar os olhos por outra hora e meia.

e as 7h em ponto encontro os quatro estacionando o carro e passando que ninguém queria dirigir...
e passam aqui na frente com a maior cara de ressaca!

terça-feira, 16 de julho de 2013

familia comercial de margarina

...
tem vezes que me sinto como uma estranha no ninho.

e encontro mais afeto na família do outro do que na minha própria.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

conversas

- minha mãe contou que encontraram um morcego com raiva em união.
- ainda existe raiva, lá?

e enquanto isso Matteo vira a cabeça pro lado, franze a testa e me diz...
- morcego com raiva?? mas morcego tem sentimento? porque ó... raiva é quando você tem um amigo, ai teu amigo arruma um outro amigo e te deixa sozinho. e você fica enraivecido!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

perseguição



como tenho feito em todas as manhãs desde domingo, cedo pego um livro e vou me sentar na frente do lago.

mas para achar o lugar certo para a leitura faço como um cachorro que dá dez voltas no mesmo lugar antes de deitar.
aqui tem muito sol, aqui na sombra é frio, aqui tem barulho, etc...

até que encontrei o lugar perfeito: uma pedra que quase deixa os meus pés tocarem a água (mas que fez ou outra quando passa um barco grande preciso levantar e ficar atentar se a água não vai subir muito).



a minha leitura no lugar perfeito foi interrompida pela voz insuportável de uma avó que gritava (não de raiva, era o seu modo de falar) com o bebê que não devia ter mais do que 3 ou 4 meses.

"amooooooooole". e a cada "amole" no lugar de "amore" eu pensava o quanto odeio gente que fala errado com criança, trocando o r por l.

levantei do meu lugar perfeito e sentei em um banco.
5 minutos mais tarde a mesma mulher estava exatamente na minha frente aos berros.

não aguentei e segui adiante.
e... bum! mais uma vez a mesma mulher.

desisti!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

me sentindo a otária do dia

um dia faz 14 graus,
e em um passe de mágica chega uma calor do Saara.

o termometro marca 38, e nem um ventinho facilita a respiração - que vai ficando pesada.

corro a loja de produtos naturais na esperança de encontrar um estoque de água de coco para repor a energia.
saio com todas as caixinhas da prateleira: 500ml por 4 euros (R$ 12).
e assim que abro dou conta de comprei um chá verde com aroma de coco!!

e a explicação na caixinha vinda da Alemanha: "verde como o coco verde".

terça-feira, 18 de junho de 2013

Bodas de Diamante



Se você é do tipo que não resiste a um romance bem meloso na tevê, chora com a cena romântica da novela ou até com a do comercial de margarina, tenho uma boa história pra te contar. Sessenta anos atrás um casal apaixonado quase foi impedido de dizer sim ao amor que um sentia pelo outro. Ela católica, ele luterano: uma diferença que hoje pode nos parecer quase insignificante, mas que na metade do século passado não era tão bem vista. Com a ajuda da sogra, a noiva topou um casamento às escondidas. Mas o evento organizado com toda cautela marcava a inauguração do novo Forum, e assim, foi transmitido na rádio! O pai dela, que era contra a união, não teve tempo o suficiente para mudar de opinião ou para interromper o grande dia. E logo após o casamento civil a família do noivo levou os dois pombinhos às pressas para a Igreja Luterana de Canoinhas para o segundo sim do dia. E é a esse casal que já enfrentou muitas dores mas que tem histórias melhores que um romance de cinema, que desejo outros 60 anos! Oma e Opa, vocês são os meus heróis! Foto: Alice e Carlos Egon Ihlenfeld em 18 de junho de 1954, em fotografia feita pelo pai do noivo no Foto Iris.

sábado, 15 de junho de 2013

conversa surreal

na limpeza de pele:

- olha, faz um tempão que não faço. acho que podemos fazer uma parte hoje e marcar uma segunda sessão ainda essa semana.
ela me faz deitar na "cadeira de dentista", olha a minha pele com aquela mega lente de aumento e me diz:
- mas você tem a pele limpa!
- ah, olha bem ai.

em cinco minutos a limpeza de pele acaba. e nas próximas duas horas massagens com creme + óleo + creme + esfoliação + óleo + creme + máscara.

e desde então me sinto meio intoxicada.

querendo me empurrar os produtos que vende me diz:
- a tua pele é ótima, mas você precisa usar uns creminhos.
- ah, mas eu uso!
- o que você usa?
- digo os dois nomes dos cremes da lancome.
- hummm.... não sei. não conheço. quer dizer, acho que essa marca ai não é muito conhecida. te dou uma amostra do meu creme.

mais tarde conto pra ele,
e ele, que de beleza não entende bulhufas me diz:
- e ela tentou te convencer que lancome não é conhecida? que desespero pra vender!

sexta-feira, 14 de junho de 2013

os olhos se abriram outra vez

há quem pense que um filho com problema é um desafio imposto por deus. é uma cruz que você deve carregar sem se lamentar.
eu não condivido esse pensamento.
ainda mais morando em um país (mesmo que com forte raiz católica) que permite o aborto.
se fosse diagnosticado um problema sério no inicio, eu não levaria a gravidez adiante. me parece muito egoismo levar até o fim. e manter um ser em caso crítico só pela vontade de ser mãe.

e foi por isso que ele me disse cuidadosamente enquanto estava na sala de espera da consulta com o geneticista:
- se a resposta não for boa não se desespere. a gente tem que esperar pelo negativo, se não, nem estariamos aqui. mas você vai ver, vamos encontrar uma outra solução e vamos enfrentar a vida.

a gente já tinha decidido. se a chance fosse presente, mesmo que pequena, não continuariamos. parariamos por aqui e em fevereiro entrariamos com o pedido de adoção. e então enfrentariamos uma nova longa espera.

a sala de espera do departamento de genética é um dos lugares mais apavorantes. a mãe com o filho com autismo o protegia abraçando enquanto ele gritava. como se o seu abraço o protegesse dos olhares reprovadores de quem estava em volta. nem mesmo uma palavra brusca pra tentar conte-lo (até porque ela sabiamente deve ter aprendido que essa comunicação não funciona). eu não sei se teria tanta estrutura para ser tão plena como aquela mãe.

no fim, um alívio.
a mutação só pode seguir como mutação. e não como doença.
podemos ter um filho portador são de uma doença má, a fibrose cistica. assim como eu sou portadora (sem nunca ter imaginado). mas não temos chances de ter um filho doente.

e em uma das poucas vezes, conseguimos sair da consulta sem carregar mil quilos nas costas.
saimos com o rosto mudado. com a expressão leve, aliviados.

e essa noite conseguimos dormir como há tempo não conseguiamos.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

obrigada apple


abro a caixinha do tel novo
olho pra ele e falo:
- eles sabem tudo.
- o que você está falando?
- eles sabem que eu sou uma brasileira na Itália. e querem me facilitar a vida colocando um manual em italiano e outro em português.
- abre o livretinho. você já vai encontrar em inglês e em alemão.
- nada de inglês. nada de alemão. português e italiano. viu só? tava lá me esperando!

quando a sogra é quase como mãe...

ela me olha cedo:
- você não está bem.
- não. estou tão nervosa pra consulta média que estou vomitando desde ontem.
- percebi pelo teu olho de peixe morto.
- e olha que passei rimel pra disfarçar!
- ah, menina... você não consegue disfarçar quando não está bem!

quarta-feira, 12 de junho de 2013

dia de romance

porque a gente é assim... um combinação inter-continental

comemora em fevereiro no dia se San Valentino;
e comemora em junho no dia dos namorados.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

ah, o amor

falando com Matteo (6 anos) sobre o seu amigo que beijou a garota.

ele me diz:
- mas eles são namorados! ele é apaixonado por ela!

pergunto:
- mas o que significa estar apaixonado?

ele responde:
- é quando o coração bate mais forte porque você encontrou uma garota especial.
depois San Valentino te encontra e ai vem o amor!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

avançadinhos

Matteo, seis anos, sozinho no campo de futebol perto de casa.

ele:
- Matteo, volta pra casa.
- ainda não.
- volta!
- não.
- mas não gosto de te ver sozinho ai.
- eu não tô sozinho.

(passa um tempo)...
se repete o mesmo diálogo.

(passa um tempo e as meninas entram no campo).
eu para elas:
- por que vocês não chamam o Matteo pra jogar com vcs? ele está sozinho lá no canto (perto do mato).
- é porque o Miguel está lá com ele.
- mas eu não vejo o Miguel.
- ah, mas é porque ele tá escondido!
- como assim escondido?
- ele tá beijando a Irene!

sábado, 25 de maio de 2013

o dia que me senti criança outra vez

quando criança eu deixava comida para um passarinho na janela do meu quarto.
e quando acabava, ele batia com o bico contra o vidro avisando que estava com fome.

o mesmo aconteceu ontem aqui... com uma distância de mais de 20 anos e 12 mil quilômetros.

deixo um potinho de sementes na mesa da sacada.
e ontem vejo esse passarinho pequeninho que se equilibra na moldura da porta. e quando encontra a posição certa começa com o seu "tec-tec-tec-tec" contra o vidro.

vou até a porta... e seu potinho está vazio!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

a caminho do genetiscista

a minha vida é um pequeno drama...
e meus cromossomos parecem saídos de uma apresentação circense!

quarta-feira, 15 de maio de 2013

provocando um ataque cardíaco

ela liga para ele:
- passe em casa antes de sair para o jantar. preciso falar com você.

eles no banheiro enquanto ele faz a barba:
- você vai ficar bravo comigo.
- o que aconteceu?
- perdi a minha aliança.
- onde?
- e como é que vou saber onde? percebi que não tenho mais a aliança no dedo.
- você sabe o que eu penso.
- eu sei... você é um supersticioso inveterado que acha que é um sinal do fim.

[pausa]
ele continua fazendo a barba.

ela pega a mão dele:
- e onde está a tua aliança??

ele fica pálido! branco como a parede.
- cadê a minha aliança??
- nós dois perdemos no mesmo dia?
- ah, não brinca! cadê a minha aliança?
- e como é que vou saber?

e enquanto ele esta a beira do desespero,
ela não aguenta mais conter o riso e cai na gargalhada.

tira as duas alianças do bolso.

ele tinha perdido enquanto dormia.
e ela nunca tinha perdido a sua.

terça-feira, 14 de maio de 2013

com o panda não!

matteo de seis anos fala em italiano com a menina alemã de dois ou três anos, filha de um casal de clientes hospedados no hotel. ela não responde.
ele oferece um de seus pandas (seguindo a ordem da tia) e assim que ela pega um (os dois pandas são exatamente iguais) ele lamenta:
- ela escolheu justo o meu preferido.

a menina o coloca no chão (ele faz cara de desesperado).
a menina se senta em cima do panda - e ele não pode suportar. vai reclamar com a mãe.

fala, fala, fala.
e a mãe da garota responde:
- non capisco.

ele repete todo o discurso.
e ela diz à ele:
- non capisco.

ele em italiano diz:
- mas você fala italiano ou alemão? porque eu tô aqui falando com você e você me responde em italiano que não entende. eu repito tudo outra vez. mas tô achando que você só sabe falar "eu não entendo" em italiano!


****

na manhã seguinte:
a menina o procura na hora do café da manhã.
ele trata de esconder os dois pandas.

a avó diz para ele conversar com a menina. ele a ignora.

e me fala baixinho:
- ela não é italiana.
digo à ele:
- mas você também não é italiano. você é cambojano. e eu também não sou italiana, sou brasileira.
- mas zia adri, nós falamos italiano.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

cereja-cerejeira

a ideia foi dele: dar uma árvore frutífera para a minha avó no dia das mães.

minha mãe passou de floricultura em floricultura e não encontrou.
me diz:
- vou comprar kiwi. três fêmeas e um macho.

vai buscar as árvores e estão secas-sequentas.
no lugar, compra uma árvore de pitanga.
dá de presente para a minha avó e ela diz que não é pitanga,
é uma cerejeira!
a árvore que eu queria e que ninguém tinha pra vender!

domingo, 12 de maio de 2013

nó na garganta

meu cunhado me fez chorar logo cedo.

enquanto minha sogra abria o presente que demos a ela,
ele me dá uma rosa que colheu em seu jardim.

e me diz com a voz marejada e as lágrimas contidas:
- para quem estamos esperando ser mamãe.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

a saga dos correios

vou ao armazém a dez passos aqui de casa comprar três cartões postais.

- selo?
- ha! selo?
- não tem!
- ah, não me diga isso... odeio ir à posta (correio daqui!).
- você não é a única, adriane! sabe por que não tenho selo pra vender? (aqui se vende selo em "tabacarias" qualquer lugar autorizado para a venda de cigarros também, como banca de revista ou armazém).
- porque a posta não tem!
- como assim?
- ontem percebi que os turistas já estão chegando e que os meus selos já tinham acabado. fiquei na fila pra comprar os selos. e o que eu ouvi? que os selos acabaram e só vão receber mais na semana que vem!!

e assim descobri que não sou a única a odiar a posta italiana! continuando sugerindo que eles troquem o p por b!

a falta de fé

enquanto conversamos sobre política (e de como tudo andaria barranco abaixo se um forte candidato a prefeito ganhasse a eleição que acontecerá aqui nos próximos dias) a mãe dele grita:

- vai assim porque vocês não têm fé.

nos olhamos com um ponto de interrogação estampado na testa. o que a fé tem a ver com a política?

- ele diz: estamos falando que se ele entrar coloca uma cruz sobre o turismo, o nosso ganha pão.

e ela insiste na teoria de fé. como se bastasse ter fé pra que tudo andasse nos trilhos.

na hora penso - mas não falo, porque já sei a resposta - como fica a situação de quem tem muita fé e só se ferra. como é o caso do primo padre, com uma doença degenerativa que atrofia músculo a músculo.

ah, mas nesse caso é a fé dele que é colocada em prova! e cada vez me espanto em como as pessoas precisam da viseira igual a um cavalo. é tão mais prático não pensar e olhar sempre em uma única direção!

segunda-feira, 6 de maio de 2013

o exame que nos lê de cabo a rabo

a Itália pode ser um país quebrado, emerso em crise (ainda se Berlusconi insiste em dizer que não vê a crise porque encontra os restaurantes sempre lotados) mas a saúde pública funciona aqui. enquanto no Brasil é preciso mendigar no escritório da Unimed para liberar um exame, aqui ninguém nem mesmo te questiona nada: o pedido de exame já sai da mesa do médico pronto pra ser usado. e vale dizer que não se trata de um plano privado - é o serviço de saúde pública. eu pago uma parte: 264 euros. e em seguida vejo o montante pago pelo governo: 2.821,02 euros (cerca de R$ 7.600,).

 

 3.085, euros (cerca de R$ 8.330,) e em 21 dias teremos um mapeamento genético e de DNA que indicará qualquer chance de doença física ou mental que a combinação minha e dele possa gerar em um filho. e de acordo com o resultado o nosso médico pode andar adiante com o tratamento ou optar por não continuar.

e quando explico ao meu pai (ele que há uns meses pegou pesado dizendo que o procedimento poderia gerar um bebê com muitos problemas) me diz com a voz doce: era isso que eu queria te explicar! era esse exame que eu queria que vocês fizessem!

domingo, 5 de maio de 2013

a maça não cai longe do pé

na sexta a noite:

ele: o que você vai fazer amanhã?
ela: quero acordar cedo pra levar o carro pra lavar.
ele: você é mesmo filha do teu pai.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

hi-lo

sábado a noite (depois de ela passar por uma tentativa de assalto - e quase atropelar o assaltante) eles vão ao kebab turco - um lugar pra comer com os olhos fechados.

ele:
- isso sim é ser maleável. um dia estamos num restaurante estrelado michelin (leia aqui) e no outro num boteco de quinta comendo kebab feito com carne de sabe lá o quê...
ela:
- somos um casal high and low!








domingo, 21 de abril de 2013

interrogatório

qual é o valor médio de salário dos italianos?
existe salário mínimo?
quanto custa um carro zero?

quanto custa o litro da gasolina?
e da aditivada?
qual marca você usa?

e a cerveja? quanto custa uma garrafa?
qual é a média de preço de restaurante? e da pizza?

como assim você não tem empregada doméstica???
você paga 12 euros a hora pela diarista?


* meu pai em 40 minutos de telefone me perguntando sobre o preço de tudo.
e indignado por eu não ter emprega todos os dias.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

aaaatchim

meu sobrinho de seis anos outro dia me trouxe as flores que catou no meu jardim.
flores que nascem depois de um dia de chuva seguido de um dia de sol.

um maço colorido pra alegrar a casa.

e hoje, poucos dias depois, estou a beira da loucura dentro de casa.
penso: como é possível que eu tenha gripe depois de enfrentar um inverno inteirinho sem nem mesmo um dia de resfriado? o primeiro inverno da minha vida - a base de muita equinacea - que não tive gripe! e vou arrumar uma logo no começo da primavera?

e é então que olho o maço... e percebo que as flores amarelinhas ali do canto se tornaram aquela bola de penugem que eu tanto gostava (e ainda gosto) de assoprar quando criança.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

o novo problema deles

ele:
- vou ligar pro médico e perguntar se podemos fazer uma viagem exótica no meio do tratamento.
ela:
- vou pro camboja sem receio. deixo de comer todos as comidas de rua que vou ter vontade de experimentar, não bebo nem mesmo um suco com receio que seja feito com água de torneira... mas pra romênia não vou. acho melhor avisarmos que devem cancelar o hotel.

ela:
- e se a gente adiar o camboja?
ele:
- mas é uma viagem pra fazer com mochila. como vamos fazer levando um filho?
- deixamos com uma das avós.
- você está louca?
- não vejo o menor problema tirar cinco dias de férias. só nos dois.
- não se deixa um filho sozinho até completar oito anos.
- de onde saiu essa teoria?
- é assim que funciona: não se deixa um filho até os oito anos.
[silêncio]

- até porque a viagem de carro saindo de NY será só nossa. não é viagem pra criança.
- você deve estar louca.
- eu continuo não vendo problema em uma criança passar cinco dias com a avó.

terça-feira, 16 de abril de 2013

o sonho da minha sogra

- o meu sonho é o de um dia almoçar só sorvete! um potão assim ó (e me mostra com as mãos).
de todos os sabores... só sorvete. vamos? nós duas!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

no hospital

respondendo ao questionário do médico:

cigarro: não
alcool: sim
drogas: não
rock n'roll: sim

o médico levanta o olhar sério entre os papéis: "resposta certa"

terça-feira, 9 de abril de 2013

chega de meias palavras

na hora do almoço ela colocou os pingos nos "is".
contou a sogra e aos cunhados como foi a não tão animadora visita médica do dia anterior.

explicou que na quinta irá ao hospital para agendar o procedimento e saber os custos.

e quando eles estavam para comemorar ela pontuou: é o procedimento mais delicado que existe. se falhar na primeira tentativa o médico já avisou que não tentará a segunda. a chance de dar certo não chega a 20%.
explicou por cima como funciona.

e a sogra lhe disse: mas esse não é aceito pela igreja.
o cunhado respondeu mais rápido que ela: aceita sim.
e ela entrou na discussão: não, não aceita. mas é o que temos programado.
se der certo, ótimo. em cinco dias de laboratório o embrião é implantado no meu útero.
caso contrário, é descartado automaticamente.

e enquanto abriam as bocas ela deixou claro que a opinião da igreja não a interessa.
silêncio.

vamos falar sobre o cachorro?

segunda-feira, 25 de março de 2013

ela não tem reagido bem...

um simpático bebê de quatro meses de um cliente alemão passou pelos braços de todos enquanto os pais jantavam.
até que na cozinha, alguém falou pra ela:
- pega!

ela nunca segurou um bebê com tanto desconforto,
com uma faca enfiada no peito,
enquanto fazia de conta de que estava tudo bem,
e mordia os lábios com força pra não chorar

usou a dor da tendinite como desculpa,
devolveu o bebê
e foi se distrair com outras coisas na frente da tv.

ela ainda não tá pronta pra bater de frente com a saudade de o que ela provavelmente nunca terá.

quinta-feira, 14 de março de 2013

vou sugerir que a POSTA troque o P por B

a posta italiana (correios) é o inferno.
imploro para não ter que ir...
procuro quem vá no meu lugar.
e vez ou outra me vejo passando raiva mais uma vez.

dessa vez, eu só queria despachar um pacote de páscoa para os meus pais.
chocolatinhos, um cartão e só.
não estava nem mesmo disposta a convencer o atendente que não é um despacho por via terrestre, como ele insiste em repetir. só queria mandar o meu pacote, pagar os 33 euros e voltar pra casa.

45 minutos de fila (tinha duas pessoas na minha frente) e chega a minha vez!
- com essa caixa não pode, me diz. precisa trocar.
compro a caixa padrão.
preencho as informações na caixa. espero mais dez minutos enquanto ela termina de atender o senhor que passou no meu lugar e...

- xiiiiii. acabou o formulário internacional.
- e agora?
- ah, agora não posso fazer nada!
- e o que faço?
- ah, eu não posso fazer nada!
- volto amanhã?
- hummm.... até que o meu chefe peça novos formulários não posso fazer nada!


quarta-feira, 13 de março de 2013

nó na garganta

ela acordou às 4h
não encontrou ele na cama.

tampouco ele tinha conseguido dormir naquela madrugada.

ele estava na sala assistindo televisão.

ela foi até o banheiro,
fechou a porta delicadamente para ele não ouvir.

se trancou.
e ali ficou por mais de uma hora.
colocou pra fora todas as lágrimas que arranhavam a sua garganta.

as duras palavras do urólogo se repetiam dentro da cabeça dela:
- parem de se iludir. não há mais nada a ser feito. o outro médico só está dando esperança em vão, disparando remédio sem razão e tirando muito dinheiro de vocês.

eles precisam da ilusão que o outro médico os dá.
mesmo que custe caro. eles ainda não sabem lidar com a sentença permanente dos outros doutores.

ele se faz de forte.
ela se tranca no banheiro pra se fazer de forte.

mas assim que ela abre a porta, ele vê seus olhos inchados,
sua cara de funeral e a abraça forte.

segunda-feira, 11 de março de 2013

auto ilusão

ela acorda antes das 6 da manhã...
levanta de mansinho pra não acordar ele, que raramente consegue dormir por tanto tempo.

vai fazer o teste no banheiro,
aquele teste que não a deixou nem dormir direito... e que a fez esperar que amanhecesse, horário de maior concentração de hcg.

um risquinho aparece no sticker.

ela joga fora e ele abre a porta do banheiro.
- nada?

ela balança a cabeça fazendo sinal que a resposta era negativa.
mais uma vez seu corpo a enganou.

e eles voltaram para a cama se espreguiçar por mais alguns poucos minutos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

no shiatsu

o senhorzinho do shiatsu me diz:
- parei pra refletir e decidir se ainda queria trabalhar esse ano. ainda não sei se vou tirar um ano sabático. porque sabe... a vida deve ser planejada do zero aos 25 anos; dos 25 aos 50; dos 50 aos 75 e dos 75 aos 90.

(ele continua...)
- eu tenho 79 anos, tá na hora de planejar a minha última década.
mas pelo visto vou continuar a trabalhar... a minha mulher, que é meu mestre, disse que eu posso viver até os 120 anos. tem tanta gente por ai que vive até 120, né?
até porque... ainda não posso me programar pra morrer.
ainda não aprendi como farei do lado do lá sem o meu copo de lugana todos os dias... ou sem um miccio (gato) para acariciar.
ah, acho que se eu morrer eu vou ter que voltar logo! ainda não aprendi a viver sem as coisas que eu gosto!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

o fim da fuga?

ela fugiu da indiferença dele desde pequena.
não sabia lidar com essa armadura que ele sempre usou pra se revestir.

passou pela fase em que bateu de frente.
se fez mal.
e fez mal à ele.

e mesmo assim ele não reagiu.

ela mudou de tática.
passou a dar carinho.

e mesmo assim ele não reagiu.

ela foi pra longe, longe - mais longe do que antes.
e quando ela atravessa 12 mil km pra vê-lo, ele a trata com a mesma indiferença de sempre.

ela chorou, se descabelou. e entendeu que esse era o jeito de ele amar.

um amor que sofre por demais.
que por medo de demonstrar qualquer afeto a um ser humano, se fecha num mar de insegurança.

vez ou outra ela sente ciúmes dos cachorros, com quem ele sempre falou com a voz mansa e com o agrado na mão.

mas até com eles está mudando.

e ela não tem mais nem de quem sentir ciúmes.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

bicho papão

nas primeiras noites em que ouvi os barulhos no telhado de casa quase enfartei.

no primeiro barulhão pulamos da cama! não passava das 3h da manhã e eu fiquei com os olhos arregalados na frente da tevê até levantar e tomar o café da manhã.

na noite seguinte o barulhão voltou às 5h... e a essa altura eu já estava bolando planos mirabolantes pra deixar esse gato longe do meu telhado.

nada que fizesse mal... afinal, eu sou aquela que com uns oito anos correu atrás de uns três meninos bem maiores do que eu porque estavam mirando pássaros com o estilingue!

só estava pensando em como assustar o gato...
pra que ele não me assustasse mais!

mas foi só contar ao pai que estava planejando jogar um copo de água no gato pra ele quase me deserdar!

há alguns dias o barulho passou a acontecer no fim da tarde - e não mais na madrugada.
é como se um bicho estive afiando as unhas.

e depois de mais alguns dias consigo ouvir bem quando ele entra e quando sai.

até que entendi...
em pleno inverno europeu, com algumas noites de neve e de vento gélido, o que ele quer é um cantinho quentinho.
e é por isso que se acomoda justo em cima do meu quarto ou da sala. é de onde vem o calorzinho do aquecedor!

e agora convivemos bem.

eu e o bicho papão no forro em cima da minha cama.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ele é igual ao meu pai

fim de semana em um quarto de hotel:
um aquecedor que não abaixa a temperatura - e insiste em manter o quarto com 24 graus (mesmo com as 4 vezes que me levantei de madrugada a ajustar para 19graus). não podia nem abrir a janela, já que fora a temperatura era congelante, e o vento frio faria o aquecedor trabalhar ainda mais forte.

pra piorar: carpet no chão - o que pra mim é sinônimo de nariz incomôdo no dia seguinte.

no dia seguinte acordo com o nariz seco e as pálpebras dos olhos inchadas.

não inchadas de sono, mas inchadas como se eu tivesse chorado uma semana ininterrupta.

e assim que me olho no espelho começo a reclamar da temperatura do quarto (pode fazer um frio siberiano lá fora, mas no quarto não durmo não aquecedor).

ele (igualzinho ao meu pai) me diz:
- isso deve ser resultado dessas porcarias que você usa nos olhos.
- do que vc tá falando?
- ontem vc usou aquela coisa nas pálpebras (sombra), usou o traço preto (lápis) e a tinta nos cílios (rimel).
- mas era tua alergênico! é próprio pra evitar alergia.
- e você acredita?!

sábado, 2 de fevereiro de 2013

nova pancada

depois de sair do hospital onde minha sogra está internada, fomos à pizzaria.
logo na porta encontramos um conhecido.

conversa vai, conversa vem, e ele diz:
- em agosto serei papai pela terceira vez.

vejo que ele engole seco, e diz: nós estamos trabalhando.

o amigo responde: ah, mas eu nem estava trabalhando pra ter outro filho!
quem é louco o suficiente pra pensar em filho em tempo de crise? (bla bla bla)

***

mais uma dessas e vou andar com uma plaquinha no pescoço: "não fale sobre filho e gravidez comigo".

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

das coisas que eu não deveria falar...

... e talvez, nem mesmo pensar.
mas é automático.

me invade.

e quando me dou conta, estou ali, prestes a explodir de tanto rancor.

num zapping na tv na manhã de hoje caio num programa chamado "reparto maternita", um reality que mostra o cotidiano da seção de maternidade de um hospital italiano.

e ali estava... uma banguela com dois dentes na boca, que tinha acabado de ter três filhas.
ela queria saber se ao menos uma morreu.
não com o aperto no coração... mas buscando alivio.
pra "falta de sorte" dela, todas as 3 estavam bem.

senti outra vez a mesma raiva incontrolável quando a que tive outro dia enquanto lia sobre um casal inglês que teve 3 filhos na primeira vez, e 4 na segunda. o mero detalhe é que eles nem queriam ter filho, e que não tem nem como manter 7 filhos.

ando reagindo da pior forma possível...

mas quando vejo situações como essas, o aperto é cada vez maior.
chega quase a faltar o ar.
um nó aperta na garganta.

e o pensamento de que nunca conseguiremos engravidar se instala vez ou outra por aqui...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

conversa da madrugada

ela acorda no meio da noite, se mexe, e ele, que tem o sono mais leve do mundo abre os olhos.

ela só pensa na casa nova. pouco antes de dormir, havia mostrado à ele como será o deck no jardim com sofás sob a videira.

- promete que vamos ter um balanço na árvore (diz ela).
- sim (diz ele com os olhos meios fechados).
- e que a chloe finalmente vem.
- aham.
- você disse sim!?
- sim.

e ela dormiu sorrindo.

ao acordar, ela trata de confirmar:
- lembra de tudo o que conversamos essa noite?
- conversamos?
- sobre a casa! o balanço na árvore! e a chloe!!
- ah, a chloe...
- você disse sim!
- é eu disse sim!

e finalmente a chloe vem! e sem protestos!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

planejando a casa nova

ela já imaginando a discussão que viria em seguida:

quero fazer três modificações no projeto.
essa e essa parede saem, quero uma sala ampla, enorme.

e não quero que os pedreiros coloquem azulejos no banheiro de hóspedes. ali vai o papel de parede.

e no outro, não quero nem ver os azulejos grandes que usam hoje em dia. naquele banheiro colocaremos azulejos pequenos e brancos, iguais aos do metrô de Paris. até metade da parede. só sobe até o fim na parede do chuveiro.

é isso!

ele: mas você não queria colocar também uma parede de azulejos antigos na cozinha?

ah, sim! são quatro coisas que não abro mão.

e esperando todos os "mas" e "poréns" que ele tinha a dizer, me surpreende: ah, ok!

erros de gramática

numa conversa deles à noite:
ela: preciso aprender a o corrigir meus erros de italiano. não posso mais dizer "ho comprato", li no livro que se diz "io comprai".
ele: mas aqui ninguém fala assim. só usam essa regra no sul.

no almoço do dia seguinte:
a sogra dela: "io mangiai ..."

ela interrompe: tá vendo! tua mãe fala no tempo verbal exato!!
ele: você tá ficando louca!
ela: juro! prestei atenção, ela acabou de dizer "mangiai"

o irmão dele balança a cabeça e faz sinal de não...

ela ignora e diz à sogra: você não acabou de dizer "mangiai"?

a sogra: sim, "io mangiai".

ele: ah, mas ela tá falando em dialeto bresciano! não em italiano no passado remoto!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

o anel

os dois assistindo ao filme "Sweet Home Alabama":


ela: um dia você vai fazer um pedido de re-casamento assim?
ele: mas é claro!
ela: numa loja da Tiffany?
ele só a olha...

ela: ah, vamos mudar de filme. é muito menininha pro meu gosto!