sexta-feira, 14 de junho de 2013

os olhos se abriram outra vez

há quem pense que um filho com problema é um desafio imposto por deus. é uma cruz que você deve carregar sem se lamentar.
eu não condivido esse pensamento.
ainda mais morando em um país (mesmo que com forte raiz católica) que permite o aborto.
se fosse diagnosticado um problema sério no inicio, eu não levaria a gravidez adiante. me parece muito egoismo levar até o fim. e manter um ser em caso crítico só pela vontade de ser mãe.

e foi por isso que ele me disse cuidadosamente enquanto estava na sala de espera da consulta com o geneticista:
- se a resposta não for boa não se desespere. a gente tem que esperar pelo negativo, se não, nem estariamos aqui. mas você vai ver, vamos encontrar uma outra solução e vamos enfrentar a vida.

a gente já tinha decidido. se a chance fosse presente, mesmo que pequena, não continuariamos. parariamos por aqui e em fevereiro entrariamos com o pedido de adoção. e então enfrentariamos uma nova longa espera.

a sala de espera do departamento de genética é um dos lugares mais apavorantes. a mãe com o filho com autismo o protegia abraçando enquanto ele gritava. como se o seu abraço o protegesse dos olhares reprovadores de quem estava em volta. nem mesmo uma palavra brusca pra tentar conte-lo (até porque ela sabiamente deve ter aprendido que essa comunicação não funciona). eu não sei se teria tanta estrutura para ser tão plena como aquela mãe.

no fim, um alívio.
a mutação só pode seguir como mutação. e não como doença.
podemos ter um filho portador são de uma doença má, a fibrose cistica. assim como eu sou portadora (sem nunca ter imaginado). mas não temos chances de ter um filho doente.

e em uma das poucas vezes, conseguimos sair da consulta sem carregar mil quilos nas costas.
saimos com o rosto mudado. com a expressão leve, aliviados.

e essa noite conseguimos dormir como há tempo não conseguiamos.