terça-feira, 31 de julho de 2012

desdentada

há algum tempo quebrei um pedaço do canino dormindo,
gastei um valor absurdo pra refazer a ponta e em menos de três meses ela já tinha ido embora!

no último mês voltei a arrebentar os dentes enquanto durmo (a proteção feita e refeita pelo dentista já foi pro lixo de tão desconfortável)
pra completar, quebrei ainda um pedacinho do dente da frente num caroço de pêssego

um dia depois da minha cunhada ter feito exatamente a mesma proeza

não pensei duas vezes,
fui à farmácia comprar a placa moldável

muito mais confortável do que o do dentista,

mas me sinto uma traidora.
traio a mim mesma.

vou pra cama com a proteção,
mas não acordo sequer uma manhã com ela na boca!!

e mais: acordo as vezes com o barulho dos dentes.

algumas vezes tenho a cara de pau de guardar dormindo a proteção dentro de sua caixinha,

outras vezes, simplesmente largo no meio da cama.

tá na hora de tudo entrar em seu eixo, pra que eu possa voltar a dormir e não acordar desdentada

sábado, 14 de julho de 2012

nos anos 80/hj

em todo filme americano em que a história se passa em uma escola, há inevitavelmente a garota que é o alvo de deboche de todos, aquela em quem vão despejar uma lata de meleca caseira na noite do prom.

bom, eu não era exatamente essa garota... não era desengoçada, embora tenha usado 12 tipos diferentes de aparelhos odontológicos (inclusive o frei de cavalo), somado às minhas botinhas ortopédicas dr. scholl.

mas eu era aquela que passava 90% do tempo em monólogos internos, sozinha num canto - talvez tenha sido por isso que alguma freira do colégio tenha aconselhado a minha mãe a me encaminhar à uma psicologa.
simplesmente não suportava o papinho das meninas da minha idade, por vezes ficava ali junto à elas, me fazendo de morta, sem nem abrir a boca.
tampouco suportava as músicas que ouviam... por isso, tinha sempre por perto meu walkman sony preto com as fitas k7 gravadas pelo meu tio. preferia blondie do que xuxa (apesar de que sim, eu também tinha o vinil da xuxa, como qualquer criança dos anos 80 - só não era o meu preferido). amava um vinil "internacional" de capa amarela, de uma novela... tinha uma foto com a debora bloch e o falabella (?), e minha fita do lobão (com quem, apesar de poucos encontros, adoro conversar).

me senti uma imbecil de marca maior no primeiro encontro com a psicologa (aliás, acho que com essa não passou de uma vez - era a mãe de um menino da minha sala, de quem não lembro nem mesmo a cara, só sei que tinha olhos verdes).
a terapeuta me colocou de frente à uma casa de boneca que era quase do meu tamanho, deixou 3 ou 4 barbies à minha disposição e pediu pra eu brincar ali.
e ela ficou sentada em uma cadeira que deixava o corpo no ângulo de uma cadeira de balanço, mas não balançava (pausa: adoro essa palavra "balançava" em italiano: dondolava), e anotava se eu tinha colocado a barbie pra dormir, e a outra no jardim e a outra sei lá onde....

já com a segunda psicologa tudo andou muito melhor. mas quase matei minha mãe de desgosto quando a psicologa pediu para eu me desenhar junto à pessoa mais importante da família...
me desenhei com o urso, um pastor belga com quem eu afagava minhas lágrimas, divindo o pequeno espaço da casa de cachorro.

voltando às meninas da minha idade...
as achava umas grandes idiotas.
mas idiotas mesmo.
por vezes não me mandavam o convite de aniversário,
contratavam os serviços do foto da minha vó e perguntavam à ela (ou a quem tivesse ido fotografar) por quê eu não tinha ido à festa!
ora bolas, não tinha ido porque não fui convidada.

assim como não me uni ao halloween em que foram pedir doces à minha vó,
lembraram de mim e resolveram me chamar de última hora.
minha mãe, ou meu pai, disse que eu estava na casa da minha vó (que era casa vizinha),
e elas passaram minutos na frente da casa da minha vó berrando o meu nome. e eu ali, me fazendo de morta e pedindo pra minha vó dizer que eu não estava.

aliás, se fazer de morto é uma coisa que qualquer um aprende nos primeiros cinco minutos na casa da minha vó.
é só tocar o telefone para quem se dispor a atender perguntar ao outro: você esta? acho isso incrível! queria eu ter alguém pra atender meu celular quando não quero falar e dizer que não estou!! há!
faria isso ao menos cinco vezes por semana!

agora me diz: que criança vai se unir com sua camiseta do snoopy (que eu a-m-a-v-a e queria ter num quadro até hoje!!) junto às amigas vestidas e maquiadas de bruxa?
eu é que não ia!
hallowenn pra mim é como o que fui na minha escola de inglês, a pink and blue: com meu longo nariz de isopor com verrugas grandes e pretas, meu vestido preto de mangas longas até os pés, minha melissinha vermelha, longos cabelos artificiais amarelo e um chapéu cone pra bruxa alguma botar defeito!
nessa noite o tio rieping (era o melhor amigo do meu pai) foi me buscar na festa. e eu estava num orgulho tremendo porque sabia pedir popcorn e lollipop sozinha na caixa do bar! (não sei nem quantos anos eu tinha... talvez cinco ou seis).

era o mesmo lugar onde poucos anos mais tarde fiz aulas de datilografia.
e como odiava essas horas... meus dedos ainda muito pequenos e finos ficavam presos entre as teclas da máquina. ergh! como odiava!

uma das meninas da minha sala, era do tipo que achava que tinha o rei na barriga.
(bom...sua família tinha tido o rei na barriga... mas ele foi pra guilhotina).
um dia nossos pais estavam atrasados e ficamos só nós duas sentadas no portão do santos anjos esperando por eles.
e ela me pergunta: que carro teu pai tem? como se tivesse me ajudando a procurar o carro certo na rua deserta!
na época ele tinha três.
e quando respondi vi seu rosto se desfazer, como em desenho animado. parecia derreter.
depois desse dia ela se aproximou de mim.

achei gente que falasse a minha lingua só muitos mas muitos anos mais tarde.

e agora, moro em um lugar que me sinto como se tivesse voltado aos tempos de escola.

vez ou outra tenho alguém interessante por perto pra falar (amigos que vem passar um fim de semana por aqui), mas na grande parte do tempo, sou eu e meus monólogos...

preciso arrumar um walkman sony preto

quinta-feira, 12 de julho de 2012

mais real, e menos virtual, por favor

sou do tempo em que se escreviam cartas
(isso soa tão antigo)

e isso não faz parte de um passado remoto
até hoje é assim... minha vó e eu trocamos cartas,
com fotos, postais e chocolates (que por sinal, nunca perguntei se chegam derretidos)

talvez por isso, não consiga entender por quê raios tenho uma vizinha (não vizinha de porta, mas que mora na redondeza) que passa o dia me mandando o diabo a quatro pelo facebook, e que quando me encontra - como há cinco minutos, no armazém entre nossas casas - mal me dá oi!
aliás, só me diz "ciao" muito timidamente, porque eu a cumprimentei já de longe!

mas não sou uma alienada que vive no passado
longe disso... também passo o dia conectada, e subo atualizações o tempo todo,
mas não encho o saco de ninguém

é a minha forma de dividir com os meus amigos e com a minha mãe, a minha vida que acontece à 12mil km de distência deles...
a diferença é que não só cumprimento como abraço essas pessoas